cidade de Petrópolis é um dos principais roteiros turísticos fluminenses, tendo sido palco de importantes acontecimentos da história de nosso país. Desde a descoberta do ouro na região das Minas Gerais. novos caminhos foram traçados para o escoamento da produção aurífera, pois o Caminho Velho que partia de Paraty e passava pelo atual estado de São Paulo para as minas mostrava-se vulnerável à ação de assaltantes e corsários até o porto do Rio de Janeiro. Surgiu o Caminho Novo, inicialmente aberto pelo bandeirante Garcia Rodrigues por volta de 1698 e concluído pelo Sargento-Mor Bernardo Soares Proença. Este último recebeu a Sesmaria de Tamaraty em 1721 pelos serviços prestados à Coroa.
Ao longo do Caminho Novo surgiram pequenos entrepostos destinados a servir de pousada e abastecimento aos tropeiros e viajantes que passavam pelo local, bem como de propriedades voltadas para a agricultura de subsistência; com o tempo, houve também a necessidade de produção para o abastecimento interno de alimentos, especialmente para a Corte. Nas terras fluminenses foram surgindo fazendas para essa finalidade, onde era utilizada a mão de obra escravizada, e o território da atual Petrópolis não foi exceção. Com a vinda da Família Real para o Brasil, D. João VI ordena a revitalização do Caminho Novo, trazendo a velha trilha de animais ao padrão das estradas carroçáveis europeias. Um dos locais que servia de hospedagem para quem se dirigia a outras províncias era a Fazenda do Padre Correia, que é citada nos relatos de vários viajantes estrangeiros pela sua excelência de aposentos.
Em março de 1822, o então príncipe regente D. Pedro parou para pernoitar nessa mesma fazenda, ao se dirigir para o interior do vice-reino em busca de apoio para a causa da Independência. Encantou-se com a natureza da mata atlântica no local e pelo seu clima ameno e, segundo relatos, almejou construir futuramente naquelas terras um palácio de veraneio. D. Pedro voltou a se hospedar na fazenda, agora como Imperador do Brasil e acompanhado de toda a família. Ofereceu à então proprietária D. Arcângela, irmã do Padre Correia, para comprar a propriedade, cuja oferta foi recusada. Adquiriu em seu lugar a Fazenda do Córrego Seco, contígua à do Padre Correia, e que passou a ser chamada de Fazenda da Concórdia. Com a sua abdicação e posterior morte, seu filho D. Pedro II veio a herdar as terras localizadas na Serra da Estrela. A partir daí, temos a história de Petrópolis com a criação da colônia alemã pelo mordomo da Casa Imperial Paulo Barbosa e pelo Major Júlio Koeler.
Na década de 1870, ou talvez antes, surge na cidade uma associação negra denominada Devoção de Nossa Senhora do Rosário. Benedicto Martiniano, representante da devoção, pertenceu como escravizado ao Conselheiro Joaquim Firmino Pereira Jorge, sendo por ele alforriado. O referido conselheiro foi o doador do terreno para a construção da capela, em conjunto com sua esposa Domitila Francisca de Abreu Pereira Jorge, que era dama de companhia da Princesa Isabel. Através de festas em honra à padroeira feita pela referida devoção, e com o auxílio de arrecadação em eventos beneficentes, a capela de Nossa Senhora de Rosário foi erguida e inaugurada em 03 de maio 1883.
Com o tempo, a capela ficou pequena para os cultos ali realizados e se encontrava em mau estado de conservação. D. Manoel da Pedro da Cunha Cintra, bispo de Petrópolis, deu ao Monsenhor Francisco Gentil Costa a incumbência de reformar o templo. Monsenhor Gentil já provara seu empenho ao realizar as obras de conclusão da Catedral de Petrópolis. A construção da Igreja do Rosário foi efetuada por etapas, em que a antiga capela foi sendo demolida e dando lugar à nova. Hoje, a comunidade petropolitana se orgulha de seu grandioso templo erigido à Nossa Senhora do Rosário.
Referências
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